1 de jan. de 2012

Um Brasil sem favela?


As políticas públicas do país para favelas são insuficientes e ineficientes; se nós quisermos, podemos garantir que crianças não mais cresçam em barracos
IBGE: mais de 11 milhões de brasileiros vivem em 6.329 favelas em 323 municípios. É uma triste realidade, que se perpetua por gerações como o mais hediondo monumento à desigualdade social no Brasil.
Quase a metade situa-se na região Sudeste (145 municípios), dos quais metade (75) nas suas regiões metropolitanas. O fenômeno da favelização é urbano e metropolitano, pois 88,2% dos domicílios em favela estão nas regiões com mais de 1 milhão de habitantes.
Nossas políticas públicas para favelas são desarticuladas, insuficientes, ineficientes, com obras inadequadas e mal feitas (quando feitas), sem nenhuma previsão de manutenção, num descaso social inaceitável e que atinge, sobretudo, as crianças do país.
O IBGE mostrou que a densidade demográfica é maior na favela que na cidade formal e que um barraco tem mais crianças que uma casa regular. Só não tem mais idosos, pois o índice de natalidade é maior na favela, mas não o de longevidade.
Num país com imensas reservas de calcário e argila -matéria-prima de todos os cimentos; com parque siderúrgico, portanto, com vergalhões, perfis, chapas de aço; com sílica à vontade, portanto, com todo tipo de vidro; com um polo petroquímico que produz tinta, borracha e plástico; que possui madeira de todo tipo, exporta alumínio e ainda conta com um exército de serventes, pedreiros e carpinteiros, uma pergunta persiste.
Por que, meu Deus, tanta gente vive em barracos, sujeita a incêndios ou a morrer soterrada na lama e no lixo nos temporais?
Por que tanta laje sem telhado, de onde em dia de sol não é raro cair uma criança soltando pipa ou uma dona de casa estendendo roupa e, em dia de chuva, se formam milhões de poças para criatório do mosquito da dengue?
O Minha Casa, Minha Vida é excepcional, mas alcança uma população acima da miséria.
O Fundo de Habitação de Interesse Social, do qual tive a honra de ser relator, supre convênios com prefeituras e Estados, mas sua natureza não é de ir à favela para reformar ou jogar no chão um barraco e em seu lugar edificar, com mão de obra local e em só três dias, uma casa para ser entregue mobiliada e pronta.
Foi o que fizemos, por exemplo, para uma viúva pobre de 54 anos, que pesava 32 quilos e que criava sozinha três netos, que provia com ajuda da divina Bolsa Família.
Ela me disse: "Eu passo fome, meus netos, não!". Mais não se podia dizer para retratar a dignidade e o espírito de renúncia de quem, nada tendo, doa a si mesmo. Ela foi mais uma beneficiada do Cimento Social, programa que desenvolvemos há anos na Providência, tentando criar no Brasil esse cimento para unir profissionais, empresários, universidades e sobretudo os governos num "Movimento Brasil sem Barraco".
No Rio, a prefeitura adotou o Cimento Social e indicou Mangueira e Andaraí para começar. Se todos quisermos, podemos garantir que no Brasil nenhuma criança nasça, cresça e sobreviva em barraco.

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