A madrugada de ontem e o dia de hoje trouxeram duas mortes.
A primeira já foi comentada o dia todo e não tenho nada a acrescentar a tudo que foi escrito e continua a se escrever.
Em relação a segunda, a história é diferente.
A Tia Ester é uma desconhecida até mesmo para mim, entretanto, ela era muito citada pela minha mãe e suas irmãs e irmãos. Morava em Pernambuco, mais especificamente na cidade de Arcoverde, no agreste do Estado e foi companheira inseparável de sua irmã, a Tia Olindrina. Esta mais velha que a primeira, ficou sem sua grande companheira depois de cerca de 80 anos de convivência com sua irmã 10 anos mais nova.
Durante a manhã de hoje a emoção acompanhava minha mãe, que como outras quatro irmãs que moram aqui em São Paulo se hospedaram quando moças na casa das Tias Solteironas.
Sim, quando uma mulher na família Viana Dutra demora para casar logo é comparada as duas inseparáveis tias beatas. Sim, elas são (eram) beatíssimas. Em sua última e única visita a elas há poucos anos atrás minha mãe me disse que elas continuavam a maior parte do dia a rezar e rezar.
E como é típico no lado nordestino da família, minha mãe começou a contar uma história, com lágrimas nos olhos naquele tom nostálgico e fala arrastada (nesses momentos o sotaque retorna com mais força):
Perdi a minha tia!
Quando morava com elas (quando moça ela teve que sair da casa da família devido a problemas com a madrasta), a Tia Olindrina, que era mais velha, já era muito católica e não nos deixava sair. Mas eu a Tia Ester costumávamos sair escondidas para ir passear na praça onde ficava o cinema... Minha tia era muito bonita. Também tinha um soldado que gostava dela, mas mesmo assim elas nunca namoraram!
Vieram somente trechos, mas trechos representativos da sua memória. Memórias íntimas, como alguns tem memórias íntimas também do Niemeyer.
Oxalá a memória de todos que partem fosse tão bem celebrada como nesses dois casos.
Lógico que no pessimismo típico da minha mãe ela encerrou assim: daqui há pouco se vai a Tia Olindrina, depois a Firma (esposa de um tio que mora no Mato Grosso) e eu!
Pois é, tenho a quem puxar em pessimismo e no tom "reclamão" em alguns, ou vários, momentos.