Fui finalmente visitar o Grupo Vida de Barueri, instituição que cuida de idosos da região metropolitana de São Paulo. A visita foi em um dia de Festa Junina.
Legal, né? Nem tanto. Pois decidi de última hora e não estava de fato muito a fim de ir lá, admito.
A caminho fui pensando nas palavras: Grupo Vida. Não é comum em nossa sociedade pós-moderna super competiva associar a palavra vida à terceira idade. Para muitos, pode ser um contrasenso dar um nome desses a uma instituição que cuida de idosos acima de 60 anos. Afinal de conta, aquelas pessoas estão, isto sim, é no fim da vida, não é?
Não é!
É claro que discordo da parte de mim que em algum momento pensou assim. e depois de passar uma tarde por lá, discordo mais ainda tanto de mim como de quem pensa assim de forma tão pequena e velha.
Aqueles senhores e senhoras ainda tem sede de viver, sede de vida. Claro que nem sempre o corpo e a mente permite, e são em momentos como os da Festa Junina que eles tem alguns momentos para viver de forma diferente daquela que são obrigados a viver o seu dia-a-dia onde para quase tudo precisam do outro. O outro nesse caso, não são seus familiares, parentes e amigos. O outro é composto pela equipe do Grupo Vida, profissionais que ganham para cuidar deles, para se relacionar com eles, uma vez que a sociedade não tem paciência ou amor para fazê-lo.
Mas vamos deixar de lado essa lenga-lenga e vamos à festa!

Logo ao ligarmos o som, começa a excitação! Os que andam passam a dançar, os que estão nas cadeiras de rodas balançam os pés e as mãos. Os que já não movem bem os membros, movem as cabeças ou apenas riem.
O poder da música e a vida em ação.
Em seguida, as barracas começam a se abrir, e quem são os primeiros a se dirigirem a elas? (Meu pai e eu, mas não vale, somos mortos de fome!) Mas logo depois de nós, lá estão os velhinhos em busca das comidas e bebidas nas barracas de alimentos. Mas não só. Eles também vão até as barracas de brincadeiras. Eles querem jogar argolas nas garrafas e bolas na boca do palhaço!
Como bons seres humanos que são, eles aproveitam para aprontar. Vejo dois senhores de cadeira de rodas, fumando um de frente para o outro. Me dizem que um deles deu um cigarro para o outro que não pode fumar, mas morre de vontade. Logo depois, uma senhora pede para eu buscar um cachorro quente para ela e quando o entreguei, ela o repassou para uma visitante na maior cara de pau (os visitantes recebiam um kit de fichas com número limitado de lanches, bebidas e brincadeiras e provavelmente a acompanhante já havia terminado e como os moradores podiam pegar quantos itens quisessem, a senhora de aproveitou da situação).
Quem vive se alimenta, brinca e quebra regras e normas.

Entretanto, o que mais ansiosamente esperam é pela cantoria e pela quadrilha! Os homens, normalmente mais amuados se postam em posição. Um deles, tira de uma sacolinha plástica seu pandeiro e desde aquele momento acompanha as músicas batendo-o devagar só aguardando a violeira ligar a viola no som picareta (faltam recursos). Quando a viola é ligada, mais homens se aproximam dos três cadeirantes e se postam logo atrás e não vêem a hora da música se iniciar.
É claro que a escolha musical recai sobre as famosas canções caipiras melodiosas e com força eles cantam Chico Mineiro, o Rio de Piracicaba e outros clássicos, cantadas sempre com a entonação máxima possível e com muita emoção revivem seu passado naquelas letras. Quase me esqueço de dizer que antes de uma das canções um dos homens, aparentemente o poeta do lugar, recita uma poesia, daquelas típicas que iniciam algumas canções. E todos em volta riem ou choram.
Novamente a música e a vida em ação.

E finalmente, chega o momento da quadrinha, e o casal que vai "casar" são chamados e preparados. O belo e sorridente casal se apresenta em suas cadeiras, se aceitam perante o velho padre e o noivo beija a noiva de sopetão sem ninguém esperar. Depois disso, são 13 minutos de dança da vida incansável, cheia de trapalhadas, chapéus caindo e voltando para as cabeças, gente entrando na roda, um idoso saindo bravo da roda e indo se sentar e uma das senhoras levantando a saia até a cabeça até a coordenadora encerrar a festa e dizer que os idosos precisam descansar....

Finalmente, depois de organizar tudo a equipe da instituição se reúne para uma foto quando uma das idosas que mais aprontaram (a que levantou a saia) aparece e também se postou para a foto.
É. Quem está vivo, está no Grupo Vida.